domingo, 24 de julho de 2011

Um Lugarzinho no Meio do Nada

O que você faria se nascesse numa cidade do interior com pouco mais de 350 habitantes? Qual seria sua perspectiva sobre o futuro? Ficar naquela imensa calmaria ou lagar tudo e tentar a vida na loucura da cidade grande?

Não saberia responder, pois nasci numa "metrópole" e vez por outra me pego (ainda que por alguns minutos) me questionando se vou gostar desse agito pro resto de minha vida.

Sim... Eu gosto de agito, correria, gente na rua e coisas do gênero. Se você me perguntar para onde gosto de viajar: para as capitais do mundo! São Paulo, Buenos Aires, Londres, Paris e afins são uma êxtase para mim. 

Foi justamente por isso que eu não sei o que fui fazer em Sovana. Pra quem não sabe (provavelmente 99% das pessoas que vão ler esse post), Sovana é uma cidade medieval de origem etrusca, localizada na região da Toscana (Itália) e que possui 399 habitantes (segundo o Wikipedia).


- Mozart... Pelo amor de Deus, o que você foi fazer lá? Bom isso eu devo ao roteiro de meu amigo irmão Aristóteles Camara. 

Sovana é tão pequena que não seria exagero dizer que a conheceu profundamente em 30 minutos. Um dia em Sovana? Daria para fazer um senso completo do IBGE. 

- Mozart, e lá... o que se tem pra fazer? 

Nada. E pasmem, iríamos passar um dia completo ali.

- Nada... Mozart?

Bom, em Sovana tinham duas pizzarias, uma loja de presentes, uma floricultura, um hotel, além de duas igrejas, um castelo e cinco restaurantes (muita coisa para 400 habitantes... Confesso). 

- Então tinha muita coisa para se ver Mozart!

Depende do que você acha muito, pois tudo que narrei foi visto - com profundidade e detalhamento - em menos de duas horas. E aí a pergunta surgiu: o que vamos fazer no restante do dia? Vamos ficar ali ou ir para a próxima cidade?

Decidimos ficar... e à noite iríamos a um dos seus cinco restaurantes. O engraçado é que as portas desses restaurantes eram cheias de adesivos do Guia Michelin (aqui entre nós: aqueles adesivos deveriam ser picaretagem, pois acho muito pouco provável que algum avaliador do renomado Guia fosse comer ali naquele fim de mundo).

O glorioso Taverna Etrusca
Só nos restava agora descontrair. Lembro das meninas andando e cantando: "Era uma vez... Um lugarzinho no meio do nada..." Sem dúvidas, Sovana era a nossa primeira mancada no roteiro de viagem.

- E como foi esse jantar? Hahahahahahahaha. Vou dizer! Mas antes tenho que narrar o comportamento dos moradores de Sovana (cidadezinha? Como assim?). 

Sabe esses complexos de cidade pequena que acha que é grande? Ou que faz de tudo para se dizer grande? 

Preste atenção nessa sucessão de fatos que parece roteiro de pegadinha: 

1º Quando estávamos no hotel (leia-se: no final da rua de um 1 km que corta a cidade de ponta a ponta) perguntamos a recepcionista se o restaurante que tínhamos visto (Taverna Etrusca) iria realmente abrir, pois a cidade naquele dia parecia completamente abandonada. Sabe o que ela respondeu? "Vocês fizeram reserva?" Como assim reserva? Precisava? "Sim... senhor! É muito difícil conseguir uma reserva, mas vou ligar para lá... E como vocês são hóspedes vou pedir uma gentileza ao dono do restaurante". A única coisa que fizemos foi dar aquele sorriso gentil (quando na verdade queríamos dar uma gargalhada). A mocinha respondeu: "vocês estão com sorte, conseguimos a reserva!" Agradecemos e saímos galhofando sem acreditar no dialogo que tínhamos presenciado. 

Castelo de Sovana
2º A reserva estava marcada para às 20h. Decidimos sair um pouco antes para dar uma volta na cidade (novamente). 19:30 saímos e andando bem devagar às 19:50 já tínhamos dado outras duas voltas em todo o seu perímetro. O que fazer? Vamos logo pro restaurante. Ainda cogitamos ir para a pizzaria, pois lá pelo menos tinham duas pessoas (sim, o nosso glorioso restaurante: Taverna Etrusca... estava às moscas). 

3º Será que isso realmente presta? Vamos ficar aqui mesmo? Num tem ninguém... Bora! Bate na porta para ver se alguém abre! Bate novamente... Num é possível que não tenha ninguém aí!? - Hello, we are...! Não falo inglês, espere que vou chamar o maitre (disse uma italiana)! Hello... We are...! Vocês tem reserva? An? Ele tá perguntando se a gente tem reserva? Mas num tem ninguém aí dentro! Esse cara tá tirando sarro da gente! Temos sim senhor... Mr. Camara. Ah... Ok. Sigam-me. 

4º A essa altura já estávamos procurando as câmeras escondidas. Só podia ser pegadinha. 

E agora... O que virá pela frente? Pedimos a carta de vinho... E tivemos uma boa surpresa. O maitre nos deu uma enciclopédia. Nunca vi uma carta de vinho como aquela. Tinha umas duzentas folhas com todo tipo de vinho e preço. 

Pedimos o menu (com cinco pratos) e degustamos um vinho da região. Horrível por sinal. 

E aí começaram a chegar clientes. Em alguns minutos o pequeno restaurante estava completamente lotado (tinha umas dez mesas... E cada uma delas para seis a oito pessoas). Percebemos que sem a danada da reserva não conseguiríamos jantar ali. E a pergunta: de onde veio aquela gente toda? 

Rapaz... Começaram a chegar os pratos, um mais bonito e sofisticado do que o outro. O gosto era uma explosão de sabores, mas extremamente harmoniosos! Estávamos, sem dúvida, diante de um grande Chef (e por isso todos aqueles adesivos do Guia Michelin na porta).



Não havia ninguém em nossa mesa que não estivesse atônito com o que estava acontecendo. Ali - num lugarzinho no meio do nada - estávamos saboreando um grande menu (que não devia em nada aos melhores restaurantes parisienses). 

A sobremesa - em específico - considero a melhor que comi em toda a minha vida!  
Ai ai... Vou dizer, aquele jantar em Sovana foi memorável e, provavelmente nunca o esquecerei. 

Escrevendo esse post lembrei de minha irmã baixinha dizendo: são nos pequenos frascos que estão os melhores perfumes! Hehehehehehehe... Não sei se a analogia serve, mas desde Sovana, "pequenas" cidades não faltarão nos meus roteiros!

Abraços.

Mozart
Twitter: @mozartborba


Informações: As fotos foram tiradas com uma Canon T2i (18-55mm) e uma Sony Cyber-Shot DSC-H10 (sem lente auxiliar).